4ª carta
COMO SE
PODE DISCERNIR A DIREÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NA IGREJA
[assembléia]
( MARCAS POSITIVAS
)
Amados irmãos,
O homem que tentasse definir as operações do Espírito Santo no
despertar ou na conversão de uma alma, não faria mais do que manifestar a sua
própria ignorância, negando, além disso, a soberania do Espírito Santo expressa
nestas tão conhecidas palavras: “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz,
mas não sabes onde vem, nem para ode vai; assim é todo aquele que é nascido do
Espírito Santo” (Jo 3:8).
Todavia, as escrituras estão repletas de sinais que nos permitem
reconhecer aqueles que são nascidos do Espírito Santo e aqueles que não são. O
mesmo acontece com o assunto desta carta. Que Deus me guarde do perigo de
usurpar o lugar do Espírito Santo, crendo poder delimitar exatamente o modo
dEle operar sobre as almas daqueles que dirige, para atuarem na assembléia,
seja no culto, seja exercendo um ministério no meio dos santos. Em determinados
casos, a coisa pode ser muito mais clara e muito mais sensível do que em outros
(quero dizer, sensível para aquele que é assim chamado a atuar pelo Espírito
Santo de Deus). Não obstante, por muito vão e presunçoso que pudesse ser
procurar dar uma verdadeira e completa definição sobre este tema, a Escritura
oferece-nos amplas instruções acerca das marcas ou características do
verdadeiro ministério. E é sobre algumas dessas características, as mais
simples e as mais evidentes, que desejo agora chamar a vossa atenção, Há
aquelas que se aplicam diretamente ao objeto do ministério ; e há outras
referentes aos motivos que nos impelem a agir no ministério ou a participar de
algum modo na direção das assembléias dos santos. Umas fornecerão àqueles que
assim atuam um meio eficaz pela qual eles poderão julgar-se a si mesmos; e,
valendo-se das outras, todos os santos poderão discernir o que é do Espírito
Santo e o que procede de outra fonte. Algumas servirão para mostrar o que são
os dons de Cristo à Sua Igreja para o ministério da Palavra, e outras ajudarão
aqueles que possuem realmente esses dons a resolver importante questão de saber
quando devem falar e quando devem ficar calados.
Pensando na minha responsabilidade, a minha alma treme ao escrever
sobre este assunto, mas o que me encoraja é que “a nossa força vem de Deus”, e
que “toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para
redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus
seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda boa obra”. Provai, pois, por
esta perfeita regra, tudo quanto eu puder escrever, e se alguma coisa houver que
não suporte esta prova, que Deus vos conceda a graça, amados irmãos, de serdes
suficientemente sábios para a rejeitar.
Não é com cegos impulsos e expressões ininteligíveis que o
Espírito Santo nos dirige, mas sim enchendo o entendimento espiritual com os
pensamentos de Deus, tal como nos são revelados na Palavra escrita, e operando
sobre os renovados afetos. É verdade que, nos alvores da cristandade, havia
dons da parte de Deus cujo emprego podia não estar ligado à inteligência
espiritual. Refiro-me ao dom de línguas, guando não havia intérpretes; e como
esse dom, segundo parece, era aos olhos humanos mais maravilhoso do que os
outros, os coríntios gostavam muito de exercitá-los e exibi-lo. Por isso o
apóstolo os repreende: “Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que
vós todos. Todavia eu antes quero falar na igreja cinco palavras na minha
própria inteligência, para que possa também instruir os outros, do que dez mil
palavras em língua desconhecida. Irmãos, não sejais meninos no entendimento,
mas sede meninos na malícia e adultos no entendimento” (1 Co 14:18-20). Portanto,
o mínimo que se pode esperar daqueles que exercem um ministério é que conheçam
as Escrituras, que conheçam o pensamento de Deus tal como está revelado na Sua
santa Palavra. Notemos, porém, que esse conhecimento e essa inteligência podem
encontrar-se num irmão que não possui nenhum dom de eloquência, de nenhuma
capacidade de comunicá-los aos outros. Mas, sem eles, teríamos nós para dar ou
comunicar? É Óbvio que os filhos de Deus não se reúnem de vez em quando ao nome
do Senhor Jesus apenas para que se lhes
apresentem meros pensamentos humanos ou para se lhes repetir o que outros
tenham dito ou escrito. Um conhecimento aprofundado das Escrituras e largo
entendimento do seu conteúdo são certamente essenciais ao ministério da
Palavra. “E disse-lhes Jesus: “ Entendestes todas estas coisas? Disseram-lhe
eles: Sim, Senhor. E ele disse-lhes: Por isso, todo escriba instruído acerca do
Reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas
novas e velhas” (Mt 13:51-52).
Quando nosso Senhor Jesus Cristo estava ao ponto de enviar os Seus
discípulos para que fossem Suas testemunhas, “abriu-lhes o entendimento para
compreenderem as Escrituras” (Lc 24:45). E quantas vezes não temos lido que
Paulo, ao pregar aos judeus, disputava acerca das Escrituras (At 18:2-4). E o
apóstolo congratula os romanos cristãos por serem capazes de se exortar uns aos
outros, dizendo: “Eu próprio, meus irmãos, certo estou, a respeito de vós, que
vós mesmos estais cheios de bondade, cheios de todo o conhecimento, podendo
admoestar-vos uns aos outros” (Rm 15:14). Nas porções da Escritura que tratam
especialmente da ação do Espírito Santo na assembléia, como, por exemplo, em 1
Coríntios 12, ela não se verifica fora da autoridade da Palavra: “Porque a um,
pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a
palavra da ciência...” (1 Co 12:8).
Quando o apóstolo enumera as qualidades pelas quais ele e os
outros se reconhecem como servos de Deus, encontramos o seguinte nessa
admirável lista: “na ciência... na palavra da verdade... pelas armas da
justiça, à direita e à esquerda...” (2 Co 6:6-7); e se prestarmos atenção aos
apetrechos desta armadura, encontraremos um cinto para os lombos, que é a
verdade, e “a espada do Espírito Santo, que é a Palavra de Deus” (Ef 6:14 e
17). O apóstolo, aludindo ao que já tinha escrito aos Efésios, diz: “Pelo que,
quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo...” (Ef
3:4). Quando o mesmo apóstolo insiste para que os santos se exortarem uns aos
outros, vejam o que ele menciona em primeiro lugar como condição essencial: “A
Palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria,
ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos
espirituais; cantando ao Senhor com graça em vosso coração” (Cl 3:16). E diz o
mesmo a Timóteo: “Propondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Jesus
Cristo, criado com as Palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido” (1 Tm
4:6). E ainda o exorta, dizendo: “Persiste em ler, exortar e ensinar, até que
eu vá... Medita estas coisas; ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento
seja manifesto a todos. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina: persevera nestas
coisas; porque, fazendo isto, te salvarás tanto a ti mesmo como aos que te
ouvem” (1 Tm 4:13,15-16).
Na segunda epístola, Timóteo é exortado da seguinte maneira: “E o
que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que
sejam idôneos para também ensinarem os outros” (2 Tm 2:2). E quando Paulo fala
pessoalmente a Timóteo, lemos: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como
obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”
(2 Tm 2:15). Entre as qualidade requeridas de um bispo ou vigilante, como estão
mencionadas em Tito, capítulo um, achamos está: “Retendo firme a fiel palavra,
que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a
sã doutrina, como para convencer os contradizentes” (Tt 1:9). Tudo o que se
disse comprova, meus irmãos, que não é só com pequenos fragmentos da verdade,
apresentados esporadicamente por obrigação, que
a Igreja pode ser edificada.
Obs: (não
permita Deus que estas linhas possam vir a desencorajar alguns irmãos e a
impedi-los de proferirem algumas palavras de verdadeira edificação. Mas estou
certo de que estes, a quem o Senhor utilizar dessa forma, serão os últimos a
supor que o seu ministério seja o único ou o principal pelo qual Deus
ministrará às necessidades dos Seus santos.
Não. Os irmãos, a quem o Espírito Santo usa para edificar,
sustentar e guiar os santos de Deus, são aqueles cuja alma está habitualmente
exercitada pela meditação da Palavra, “os quais em razão do costume, têm os
sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal” (Hb 5:14). Como
dissemos, o mínimo que se pode esperar daqueles que têm um ministério na
Igreja, é que tenham um perfeito conhecimento da Palavra de Deus.
Todavia, esse conhecimento só não basta. É preciso também que a
palavra de Deus seja aplicada à consciência dos santos, de tal maneira que ela
responda às suas necessidades atuais. Mas para isso é necessário reconhecer o
estado espiritual dos santos, “comunicando em suas necessidades” (e tal
conhecimento será sempre muito imperfeito), ou então ser diretamente dirigido
por Deus. Isto vale para os irmãos que, como evangelistas, pastores e mestres,
são, no sentido mais amplo da palavra e o mais evidente, os dons de Cristo à
Sua Igreja. É somente Deus que pode direcionar-lhes as porções da verdade que
atingirão as consciências, respondendo às necessidades das almas. É somente Ele
que pode capacitá-los a apresentarem esta verdade de tal maneira que ela
produza o seu efeito. Deus conhece as necessidades de todos, como corpo, e de
cada um em particular na assembléia, e pode transmitir àqueles que falam a
verdade o que mais convém à sua edificação, conheçam eles ou não o estado de
alma daqueles a quem se dirigem. Portanto, quão importante é a sujeição sincera
e sem reservas ao Espírito Santo do Senhor!
Uma coisa que deveria marcar sempre o ministério do Espírito Santo
seria o amor divino que procede de um afeto pessoal por Cristo. “Amas-me?” foi
a pergunta formulada três vezes a Pedro, ao mesmo tempo que lhe era ordenado,
por três vezes também, que apascentasse o rebanho de Cristo. “Porque o amor de
Cristo nos constrange”, diz Paulo. Quanto isto difere de tantos motivos que
poderiam naturalmente nos influenciar! Quão importante seria se nós pudéssemos,
em boa consciência, dizer cada vez que exercemos algum ministério: “Não é o
desejo de me sobressair, nem a força do hábito, nem a impaciência (a qual não
pode suportar que não se faça nada) que me levaram a atuar, mas sim o amor por
Cristo e pelo seu rebanho, por causa dAquele que o adquiriu ao preço do Seu
próprio sangue”. Era isso, certamente, o que faltava ao mau servo que tinha
escondido na terra o talento do seu senhor.
Aliás, tanto o ministério do Espírito Santo como qualquer outra
ação levada a efeito, na assembléia, sob o impulso desse mesmo Espírito, há de
se distinguir sempre por um profundo sentimento de responsabilidade para com
Cristo. Permiti-me agora, meus irmãos, formular-vos, e a mim próprio, a
seguinte pergunta: Suponhamos que um dia, no fim de uma reunião,
perguntassem-nos: “Porque você indicou um tal hino, ou leu um tal capítulo, ou
pronunciou tais palavras, ou orou daquela maneira?”. Poderíamos nós responder,
com plena, pura e boa consciência: “O meu único motivo, ao fazê-lo, foi a
convicção sincera de que esta era a vontade do meu Senhor”? Poderíamos nós
dizer: “Indiquei aquele hino porque tinha a consciência de que ele responderia à
intenção do Espírito Santo naquele momento. Li aquele capítulo, ou proferi
aquelas palavras, porque senti claramente perante Deus que aquele era o serviço
que o meu Senhor e Mestre me assinalava. Orei daquela maneira porque tinha a
consciência de que o Espírito Santo de Deus me levava a pedir, como porta-voz
da assembléia, as bênçãos imploradas nessa súplica”? Meus irmãos, poderíamos
responder assim, embora sejam coisas que, frequentemente, só entendemos bem
depois de passadas? Ou não atuamos antes, e muitas vezes, sem nenhum sentimento
da nossa responsabilidade para com Cristo? “Se alguém falar, fale segundo as
palavras de Deus”, diz o apóstolo Pedro. Isto não significa falar apenas
segundo a Escritura, ainda que, naturalmente, isto seja verdadeiro também. Esta
passagem quer dizer, ou antes, diz que aquele que falam devem falar como
oráculos de Deus, isto é, como sendo o próprio Deus a falar pelas suas bocas.
Se não estou absolutamente certo, em plena, boa e reta consciência, de que foi
o próprio Senhor que pôs na minha boca o que digo à assembléia, e de que o faço
no momento oportuno, devo ficar calado. É evidente que um homem pode
enganar-se, mesmo cheio de boas intenções, e, por isso, é aos santos que
compete julgar, pela Palavra de Deus, tudo o que vêem e ouvem. Aliás, só a
convicção sincera, perante Deus, de que foi o Espírito que lhe deu alguma coisa
a fazer ou a dizer, deve levar alguém a falar ou agir nas reuniões. Se as
nossas consciências agissem sempre sob esta responsabilidade, já se evitaria
muitas coisas impróprias. E, ao mesmo tempo, o Ser divino poderia manifestar
livremente a Sua presença, a qual, muitas vezes, não temos considerado.
Vejamos como é surpreendente esse sentimento de responsabilidade
imediata da parte do apóstolo Paulo para com Cristo: “Porque, se anuncio o
Evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai
de mim, se não anunciar o evangelho! E por isso, se o faço de boa mente, terei
prêmios; mas, se de má vontade, apenas uma dispensação me é confiada” (1 Co
9:16-17). E quão comovedoras são estas palavras que ele dirige ao mesmos
cristãos: E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor” (1
Co 2:3). Que censura pela leviandade de coração, pela presunção com que
infelizmente, todos nós tratamos, tantas vezes, a santa Palavra do nosso Deus!
“Porque nós não somos, como muitos”, diz ainda o apóstolo, “falsificadores da
palavra de Deus, antes, falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na
presença de Deus” (2 Co 2:17).
Gostaria agora de mencionar um outro ponto: “Porque Deus não nos
deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação” (2 Tm
1:7). Um espírito de moderação, ou em outras palavras, de bom senso. É possível
que um homem tenha pouca ou nenhuma instrução humana; é possível que lhe falte
tudo, que seja incapaz de se expressar de forma correta e elegante, mas que,
não obstante, seja um bom servo de Jesus Cristo. Mas é indispensável que ele
possua um espírito de moderação, de bom senso. E, enquanto estamos tratando
deste assunto, seja-me permitido mencionar algo que algumas vezes me tem
entristecido muito, tanto em outros lugares como no meio de nós mesmos.
Refiro-me à confusão que se faz entre as Pessoas da Divindade, confusão essa
que se verifica até nas orações. Quando um irmão, ao começar a orar, dirigi-se
a Deus Pai, e continua falando como se fosse Ele o crucificado, morto e
ressuscitado; ou quando, se dirigindo-se a Jesus, rende-Lhe graças por ter
enviado o Seu único filho ao mundo, confesso-vos que me pergunto se pode ser o
Espírito Santo a inspirar tais orações!
É, pois, evidente que todos aqueles que, de algum modo, tomam
parte no culto necessitam do espírito de “bom senso”, para evitarem essa
confusão. Penso que nenhum desses irmãos crerá que o pai tenha sido morto sobre
o Calvário, nem que Cristo tenha enviado o Seu Filho ao mundo! Portanto, onde
se encontrará, então o espírito sereno, inteligente, que deveria caracterizar
aqueles que se sobressaem como os “canais” do culto dos santos, quando a
linguagem de que se servem exprime, efetivamente, o que eles mesmos não crêem e
até seria absurdo crer?!
Reservando ainda alguns pontos para uma outra carta, encerro.
Vosso muito
dedicado em Cristo, W. Trotter.
Nota do editor da 5ª edição em língua
francesa
Sobre o que o autor comenta acerca de certos defeitos das orações,
às quais podem nunca provir do Espírito de Deus, o editor toma a liberdade de
acrescentar algumas palavras:
1)
Quando um
irmão, orando na assembléia, dirige-se ao Senhor, dizendo: “Meu Deus”, isso não
pode, certamente, vir do Espírito, porque o Espírito que impele um certo irmão
a levantar e ser o porta-voz de toda a congregação, também o fará
identificar-se com a mesma.
2)
Quando uma
oração ou uma ação de graças encerra longas exposições doutrinárias, também não
posso ver nelas a direção do Espírito Santo. Aquele que ora fala a Deus, e não
aos irmãos. Ora, de maneira nenhuma nos convém pregar a Deus!
3)
Duvido que
atos do culto, sucedendo-se sempre pela mesma ordem, sejam sempre devidos à
direção do Espírito. Por exemplo, será o Espírito que quer que todas as
reuniões terminem com uma oração, sem a qual ninguém ousaria levantar-se para
sair? Sem dúvida, uma oração final será muito conveniente e tem o seu lugar, se
é Deus que a ela nos leva. Do contrário, essa oração não será mais do que uma
pobre formalidade e não valerá mais do que uma liturgia rotineira.
Continue Lendo:http://escritodosirmaosseculo19.blogspot.com.br/2013/08/5-carta-sobre-o-espirito-santo-operando.html
Continue Lendo:http://escritodosirmaosseculo19.blogspot.com.br/2013/08/5-carta-sobre-o-espirito-santo-operando.html
O dispensacionalista. O pré-milenarismo - e o calvinismo fundamentalista. É umA dádiva de Deus aos seus eleitos!
ResponderExcluir