Grande parte dos artigos postados nesse blog, foram copiados do blog Manjar Celestial do Mario Persona.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Cinco cartas acerca do culto e do ministério pelo Espírito Santo - W. Trotter

O ESPÍRITO SANTO OPERANDO NA IGREJA
Cinco cartas acerca do culto e 
do ministério pelo Espírito Santo

“Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.”
(1 Coríntios 12:11).

Ao Leitor,
As cartas seguintes foram dirigidas, há vários anos, a um grupo de cristãos, com os quais o autor estava particularmente ligado, tanto pelo seu serviço no meio deles, como pelo seu afeto. Foi isso que lhe deu coragem para falar muito livremente com eles acerca de assuntos de profundo interesse mútuo. Desde então, muitas vezes lhe pediram que publicasse estas cartas. Porém, ele sempre se recusou a fazê-lo com receio de que aquilo que era aplicável numa dada igreja local [assembléia], num certo estado espiritual, não fosse tão bem adaptado às necessidades de outras localidades, cujas condições poderiam ser muito diferentes. Além disso, receava ainda transparecer o desejo de tomar entre os seus irmãos uma posição que ele não atribuiria a si próprio na sua terra, mas que lhe era alegremente concedida por aqueles cujo meio ele havia tido a alegria e o privilégio de trabalhar para o Senhor. Estas duas objeções foram levantadas pelo fato de saber que algumas cópias manuscritas destas cartas circulavam já em diversos lugares - uma espécie de publicidade clandestina que pode, com razão, dar lugar a objeções muito mais graves.
As facilidades que um tal modo de circulação apresentam à difusão de erros mortais são, certamente, suficientes para preocupar aqueles que levam a sério o cuidado das almas, zelosos por difundir a verdade. É por essa razão que as cinco cartas seguintes são publicadas, para que sua circulação oficial alcance a todos indistintamente. As suas alegações poderão ser submetidas à prova infalível da Santa Palavra de Deus. E se elas contiverem algo contrário aos Seus ensinamentos, ninguém ficará mais grato do que o autor pela correção dos seus erros, tomando por medida aquela pura e perfeita regra da verdade.
Quinze anos de variadas experiências contribuíram para enraizar e fortalecer a convicção de que a marcha e a posição assinaladas nestas cartas são de Deus, quaisquer que tenham sido as falhas dos homens que as adotaram. Temos necessidade de paciência, de fé no Deus vivo, de amor por Cristo, de verdadeira submissão ao Espírito Santo, de estudo diligente da Palavra de Deus e de uma sincera submissão de uns aos outros no temor do Senhor.
Não há nada mais a acrescentar a não ser que, ao preparar estas páginas para a impressão, usou-se da liberdade de efetuar nelas as alterações necessárias, assim como de omitir ou modificar algumas expressões que poderiam indicar a congregação partícular à qual as cartas foram dirigidas.
Tal como são, recomendamo-las à bênção de Deus e à consciência dos santos.
Willian Trotter, 1818 - 1865.

Comece a Leitura das cinco cartas: http://escritodosirmaosseculo19.blogspot.com.br/2013/08/1-carta-sobre-o-espirito-santo-operando.html

1ª Carta sobre o Espírito Santo Operando na Igreja - W. Trotter

1ª Carta
Deus presente na Igreja

Amado irmãos,
Há vários pontos relativos à nossa posição de crentes reunidos em nome de Jesus, acerca dos quais sinto necessidade de vos falar. E escolho este meio para fazê-lo, porque assim vos ofereço maior facilidade de examinarem e pesarem maduramente o que vos será dito, facilidade essa que, provavelmente, não teríeis em conversa ou discussão livre, a que todos pudessem assistir. Ficar-vos-ia, porém, muito grato se um tal debate viesse a ter lugar (se o Senhor para isso inclinar os vossos corações), depois que tiverdes examinado e pesado na Sua presença os assuntos que agora submeto à vossa apreciação.
Em primeiro lugar quero recordar e mencionar a misericórdia de Deus para conosco, congregados no santo nome de Jesus. Somente posso inclinar a cabeça e adorar, lembrando-me daqueles momentos de verdadeiro refrigério e de sincera alegria que Ele nos concedeu, passando-os juntos na Sua presença. A recordação desses momentos, enchendo o coração de adoração diante de Deus, torna-nos muito queridos àqueles com que gozamos de tais bênçãos. O Vínculo do Espírito Santo é um vínculo real. E é nesta confiança que Ele me inspira, em amor de meus irmãos, que eu gostaria de, como vosso irmão e vosso servo por amor de Cristo, Expressar, sem reserva, o que me parece ser de suma importância para a continuidade da nossa felicidade e de nosso benefício comum, assim como para o que é muito mais preciosos ainda: A glória dAquele em cujo nome estamos reunidos.
Quando, em julho último, fomos levados pelo Senhor, como creio, a substituir a pregação do Evangelho, no domingo à tarde, por reuniões livres, como vinha ocorrendo, eu previra logo tudo o que depois se seguiu.
Posso, pois, dizer que o resultado não me surpreendeu absolutamente nada. Há lições relativas à direção prática do Espírito Santo que não podem ser aprendidas senão pela experiência. E muitas coisas que podem agora, pela bênção do Senhor, ser apreciadas pelo vosso entendimento espiritual e pelas  vossas consciências, teriam sido então completamente ininteligíveis, se não tivésseis aprendido a conhecer o gênero de reuniões às quais essas verdades se aplicam. É costume se dizer que a experiência é a melhor das mestras. Isso poderia muitas vezes ser com razão posto em dúvida, mas já não se poderia duvidar de que a experiência nos faz sentir necessidades que só o ensino divino pode fazer nascer. Acreditar-me-eis quando vos disser que o fato de ver os meus irmãos mutuamente descontentes da parte que eles tomam, uns e outros, nas igrejas [assembléias] não é para mim motivo de alegria; mas se este estado de coisas contribuir, como creio que o fará, para abrir todos os nossos corações às lições da Palavra de Deus, que, de outra maneira não teríamos podido aprender tão bem, esse resultado seria, pelo menos, um motivo de agradecimento e de alegria.
A doutrina da morado do Espírito Santo na Igreja sobre a Terra, e, por consequência, da sua presença e da Sua direção nas igrejas [assembléias] dos santos, me parece ser, desde há muitos anos, se não a grande verdade da dispensação atual, pelo menos como uma das mais importantes verdades que distinguem esta dispensação. A negação virtual ou real desta verdade constitui um dos traços mais sérios da apostasia que se tem manifestado. E este sentimento não tem diminuído em mim; pelo contrário, tem-se acentuado à medida que o tempo passa. Confesso-vos abertamente que, reconhecendo plenamente que há filhos bem amados de Deus em todas as denominações que nos rodeiam, e desejando ter o meu coração aberto a todos, já não me seria possível estar em comunhão com um corpo qualquer de cristãos nominais, que substituíssem a soberana direção do Espírito Santo por quaisquer formas clericais, do mesmo modo como, se eu tive sido israelita, não teria podido ter comunhão com a fundição de um bezerro de ouro em lugar do Deus vivo. Que isso tenha ocorrido em toda a Cristandade e que o julgamento esteja iminente sobre ela por causa desse pecado e de tantos outros, é o que nós não podemos deixar de reconhecer com dor, humilhando-nos diante de Deus, como tendo todos nós nele participado, e como sendo um só corpo em Cristo, com um grande número de cristãos que, ainda hoje, vivem nesses pecados e neles se glorificam. Mas as dificuldades que acompanham a separação desse mal, dificuldades que nós, certamente, deveríamos ter previsto e que agora começamos todos a sentir, não podem enfraquecer as minhas convicções relativamente a esse mal de que Deus, na Sua graça, nos fez sair; e não despertam em mim o mínimo desejo de voltar a essa espécie de posição e de autoridade humanas e oficiais – posição e autoridade de que se arroga uma certa classe de pessoas, características da igreja professante, e que contribui para apressar o julgamento que em breve cairá sobre ela.
Porém, amados irmãos, se estamos convencidos da verdade e da importância da doutrina da presença do Espírito Santo, ainda que essa convicção nunca poderá ser em nós suficientemente profunda, peço permissão para recordar-vos que essa presença nas igrejas [assembléias] dos santos é um fato que atesta a presença pessoal do Senhor Jesus (Mt 18:20). É de uma fé simples nesta verdade que necessitamos e somos frequentemente inclinados a esquecê-lo. E o esquecimento ou a ignorância desses fatos é a causa principal de nos reunirmos sem daí retirarmos qualquer proveito espiritual para as nossas almas. Se ao menos nos reuníssemos para estarmos na presença de Deus; se ao menos, quando estamos reunidos crêssemos que o Senhor está realmente presente ali, que efeito maravilhoso essa convicção teria sobre as nossas almas!
O Fato é que assim como Cristo estava realmente presente com Seus discípulos na Terra, como está agora verdadeiramente presente, assim também o Seu Espírito está nas igrejas [assembléias] dos santos. Se essa presença pudesse, de algum modo ser notada pelos nossos sentidos, se nós pudéssemos vê-la como os discípulos viam Jesus, que sublime sentimento nos inundaria então, e como os nossos corações seriam dominados por ela! Que profunda calma, que respeitosa atenção, que solene confiança nEle daí resultariam! Poria fim todo tipo de precipitação, todo sentimento de rivalidade, de agitação. Se a presença de Cristo e do Espírito Santo fosse assim revelada à nossa vista e aos nossos sentimentos espirituais! Mas este fato de Sua presença se basear na fé e não na vista, porventura causa menos influência em nossas vidas? Acaso Cristo e o Espírito Santo estão presentes em menor medida por serem invisíveis?
É o pobre mundo incrédulo que não recebe estas coisas, porque não as vê. Tomaremos nós então o lugar no mundo e abandonaremos o nosso? “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”. Diz o Senhor, e acrescenta em outro lugar: “Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e estará em vós” (Jo 14:16-17).
Estou cada vez mais persuadido de que o que mais nos falta é a fé na presença real e pessoal do Senhor, e na ação do Espírito Santo. Não houve épocas em que essa presença se manifestava no meio de nós como um fato concreto? E quão benditos eram então aqueles momentos! Podia haver longos hiatos de silêncio. Mas como eram eles utilizados? Em depender verdadeiramente de Deus e em esperar seriamente nEle. Não houve inquieta agitação para saber quem oraria ou quem falaria; não se utilizava esses momentos para folhear as Bíblias ou os hinários para encontrar algo que nos parecesse conveniente ler ou cantar. Tampouco se deu lugar a ansiosos pensamentos sobre o que pensariam desse silêncio aqueles que estavam lá, como visitas ou assistentes. Deus estava ali. Por isso todos os corações aguardavam a indicação certa do Espírito Santo e o que Ele qualificaria. A liberdade do ministério provém da liberdade do Espírito Santo em distribuir a cada um, individualmente, como Lhe apraz (1 Co 12:11). Mas nós não somos o Espírito Santo. E se a usurpação do Seu lugar por apenas um indivíduo já é uma coisa intolerável, que dizer então da usurpação desse lugar por um certo número de indivíduos, agindo somente porque têm liberdade de agir, e não por saberem que só se resignam com a direção do Espírito Santo? Uma fé verdadeira na presença do Senhor poria ordem em muitas coisas.
Não se trata de guardar silêncio apenas por guardar silêncio, ou de que alguém se deva abster de agir unicamente por causa da presença de um ou outro irmão. Preferiria que houvesse toda a espécie de desordens, a fim de que se manifestasse o verdadeiro estado das coisas, a senti-las refreadas pela presença de um indivíduo. O Que realmente se deseja é que a presença do Espírito Santo seja concretizada de tal maneira que ninguém interrompa o silêncio a não ser sob Sua direção. E que o sentimento da sua presença nos guarde e nos defenda de tudo quanto seja indigno  dEle e do nome de Jesus, que nos reúne.
Sob uma dispensação, lemos a exortação seguinte: “Guarda o teu pé, quando entrares na Casa de Deus; e inclina-te mais a ouvir do que a oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal. Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu estás sobre a terra; pelo que sejam poucas as tuas palavras” (Ec 5:1-2).
E, por certo, se a graça em que estamos nos tem dado mais livre acesso à presença de Deus, não devemos usar dessa liberdade como uma desculpa para a falta de respeito e para a precipitação. A presença real do Senhor no nosso meio deveria, certamente. Ser um motivo ainda mais premente para uma santa reverência e um piedoso temor, do que o pensamento de que Deus está no céu e nós na terra. “Pelo que, tendo recebido um Reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente com reverência e piedade. Porque o nosso Deus é fogo consumidor” (Hb 12:28-29).
Esperando retomar este assunto, sou, queridos irmãos, vosso indigno servo em Cristo. W. Trotter

Apêndice à primeira carta

Por muito importante que seja a doutrina da presença e da ação do Espírito Santo na igreja [assembléia], seria bom não a confundir com a presença pessoal do Senhor Jesus na assembléia dos dois ou três reunidos ao Seu nome.
Alguns tem pensado que o Senhor estava presente na Igreja pelo Seu Espírito Santo, não distinguindo entre a presença pessoal do Senhor e a do Espírito Santo. Esse último dirige e administra; não é soberano. É o Senhor que é soberano.
O Senhor diz do Consolador, o Espírito de Verdade: “Não falará de Si mesmo... Ele me glorificará... há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar...” Mas o Senhor promete estar, Ele mesmo, ali onde dois ou três estiverem reunidos em Seu nome. Ele está no meio daqueles por quem se entregou a Si próprio. O Espírito Santo, por sua vez, foi dado, não se deu a Si mesmo.
É de suma importância reter a verdade da presença e da ação do Espírito Santo na assembléia. Este fato foi perdido de vista pela Igreja, e é isso que a tem arruinado. Substituiu a presença e a ação do Espírito Santo por uma ordem clerical. Contudo não seria conveniente que a aceitação desta verdade pela maioria tendesse a fazer ignorar a presença pessoal e efetiva do Senhor Jesus no meio da Assembléia. Em Mateus 18:20, o Senhor não diz: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, o Espírito está lá no meio deles” (por mais verdadeiro e bendito que isso seja), mas: “Aí, estou eu no meio deles”.
Seria uma grande perda para a alma e para a assembléia, se a presença pessoal do Senhor, como Senhor, fosse substituída pela do Espírito Santo, o qual não é Senhor, mas sim paracleto, isto é, Aquele que dirige e administra.
Em Efésios 4:4-6, temos, no versículo 4, a unidade vital; no versículo 5, a unidade de profissão; no versículo 6, a unidade exterior e universal. A primeira está em relação só com o Espírito; a segunda, só com o Senhor; a terceira, só com Deus. A primeira unidade compreende todos aqueles que têm vida divina; a segunda, todos aqueles que professam o nome de Cristo. Portanto, os que têm a vida encontram-se ali já no primeiro plano, ao passo que esta segunda esfera pode abarcar também os que ainda estão mortos. A terceira unidade, versículo 6, compreende universalmente todos os homens, mas os filhos de Deus estão ali na primeira fila. Deus é o seu Pai e Ele está neles, embora, exteriormente, Ele esteja acima de tudo e em toda parte.
Dissemos que a segunda unidade (versículo 5) está em relação com o único Senhor. ELE tem autoridade sobre todos aqueles que invocam o Seu nome, quer tenham a vida quer tenham somente a profissão, “... com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1 Co 1:2).
Em 1 Coríntios 12:4-6 encontramos as mesmas três coisas: O Espírito, o Senhor e Deus. Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E se há diversidade de dons, há,  por conseqüência, diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo. Os servos têm recebido do Espírito a distribuição dos seus dons (1 Co 12:11), e eles desempenham os seus serviços sob a direção do Espírito. Mas, como servos, estão sob a autoridade de seu Senhor, que não é o Espírito, mas sim Jesus. O Espírito distribui e dirige os serviços, mas os servos são servos do Senhor.
De igual modo, quando se trata da Ceia, ela é a Ceia do Senhor. É a morte do Senhor que ali é anunciada; é o cálice do Senhor. É a mesa do Senhor (em contraste com os demônios). É, portanto, Ele quem tem a autoridade para determinar quem são aqueles que devem tomar parte nela (1 Co 10-11).
Notemos, porém, que somente pelo Espírito Santo nós podemos dizer: “Senhor Jesus” (1 Co 12:3).
Todavia, e mesmo sem o querermos, poderemos desconhecer a autoridade do Senhor na assembléia e substituí-la pela do Espírito, que não é Senhor, mas que administra da parte dAquele que é Senhor.
Nos dias da Idade Média a Igreja caíra no outro extremo, substituindo a administração do Espírito Santo pela administração do homem!
Convém notar que em Mateus 18:18-20 o Senhor não fala do Espírito. Trata-se da Sua própria autoridade, dEle, o Senhor, do Seu nome e da Sua presença pessoal. Sem dúvida que tudo é levado a cabo sob a direção do Espírito Santo, mas nós não estamos reunidos em nome do Espírito Santo, nem em volta dEle. Se pensarmos exclusivamente na presença do Espírito Santo, perderemos a verdade da presença pessoal do Senhor na assembléia e seremos compelidos a fazer senhor o Espírito Santo. Todavia, não podemos possuir a verdade da presença pessoal do Senhor, como Soberano, sem termos a verdade da presença e da ação do Espírito Santo, como sendo Aquele que administra da parte do Senhor, que é Soberano – sendo assim tudo que necessitamos!
Outra observação que ressalta a distinção entre a presença do Espírito Santo da presença pessoal do Senhor na assembléia, é que – embora entristecido – o Espírito Santo pode achar-se ali, apesar da ausência do Senhor. Numa assembléia dividida, os santos que a compõem têm, apesar disso, o Espírito Santo neles e com eles. Podem ignorá-Lo e não pensarem sequer na Sua influência, entristecendo-O, mas Ele não os deixa, não se vai embora: “Ele permanece convosco e estará em vós”. Mas o Senhor Jesus não pode encontrar-Se numa assembléia dividida.
Mateus 18:20 não trata da Sua onipresença, porque, nesse sentido, Ele está em toda parte, indistintamente; mas tratando-se de assembléias religiosas, o Senhor não prometeu estar em todas, porém exclusivamente ali, onde o Seu nome é o centro e o fundamento da reunião: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí, estou eu no meio deles” (Mat 18:20). E se Ele está lá, é Ele quem tem a autoridade, e o Espírito a administração.   
Ah, se tivéssemos o sentimento íntimo de que o Senhor está lá como Senhor, de que nós estamos lá como na casa dEle, que solene influência isso exerceria em nossos corações, e ao mesmo tempo, que admirável segurança e descanso! Quão livre seria então o Espírito Santo para nos administrar as bênçãos de Cristo, tomando do que é do Senhor, para no-lo fazer conhecer!
Que imenso privilégio o de sermos reunidos pelo nome glorioso dAquele que veio, dAquele que morreu, dAquele que ressuscitou, dAquele que está glorificado à direita de Deus, dAquele que nos enviou o Consolador, dAquele que de lá nos vem buscar!
Sim, é dessa reunião, cujo nome glorioso é o centro, que Ele prometeu: “Ai, estou eu no meio deles”! O Senhor, embora corporalmente ausente, encontra-Se, contudo, espiritualmente presente, de maneira positiva (e não apenas pelo Espírito Santo), no meio daqueles que o Seu nome reuniu. Ele está ali, e não em outra parte, quando se tratar de assembléias – e que bendita segurança, visto que ali Ele é Senhor!
Vosso muito dedicado em Cristo,  W. Trotter  

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2ª Carta sobre o Espírito Santo Operando na Igreja - W. Trotter

2ª Carta
A IGREJA EDIFICADA POR DONS

Amados Irmãos,
Voltando ao assunto acerca do qual vos escrevi ultimamente, queria apresentar-vos o seguinte resumo de um tratado escrito há pelo menos nove ou dez anos. O autor, se a informação que tenho for correta, é um irmão na fé que tem sido grandemente abençoado por Deus entre nós, e que é pessoalmente conhecido da maioria de todos vós. O Tratado está escrito em forma de diálogo. Ei-lo:

E. Tenho ouvido dizer que você afirma que cada irmão é capaz de ensinar na assembléia dos santos.

W. Se eu dissesse isso, negaria o Espírito Santo. Ninguém é capaz de ensinar na assembléia dos santos, se não receber de Deus um dom especial para esse fim.

E. Bem, mas você Crê que qualquer irmão tem o direito de falar na assembléia se puder fazê-lo?

W. De maneira nenhuma. Nego esse direito a quem quer que seja, como um direito. Um homem pode ser naturalmente bem dotado para falar, mas, se não puder satisfazer ao seu próximo em vista do bem, para a sua edificação espiritual, o Espírito Santo não o qualificou para falar. E se o faz, desonra a Deus, seu Pai, entristece o Espírito e despreza a Igreja de Cristo. E, além disso, não faz mais do que manifestar a sua própria vontade.

E. Qual é, portanto, o seu ponto de vista particularmente a este respeito?

W. Você pensa que seja uma opinião minha particular o crer que, como a Igreja pertence a Cristo, Ele lhe tenha concedido dons, e que sejam somente estes os canais pelos quais ela deva ser edificada e governada, isto a fim de que a sua atenção não seja mal dirigida e o seu tempo mal empregado, escutando o que não lhe seria proveitoso, por mais eloquente que fosse?

E. Não! Admito isso, e desejaria somente que ambicionássemos mais esses dons de Deus, e que tivéssemos mais cuidado em combater o uso de todos os outros meios, por maior que fosse o crédito que pudessem conferir-lhes a eloquência e o patrocínio humanos.

W. Sustento ainda que o Espírito Santo dó dons a quem Ele quer e como quer, e os dons que Ele quer. E que os santos deveriam estar de tal modo unidos, que os dons de um irmão não deveriam nunca tornar irregular o exercício dos dons de outro, e que a porta deveria estar sempre aberta, tanto aos pequenos como aos grandes.
E. É Muito natural.

W. Não, não tem sido natural. Na igreja nacional nem entre os dissidentes se encontra 1 Coríntios 14 posto em prática. Além disso, afirmo que nenhum dom de Deus deve esperar a sanção ou aprovação da igreja [assembléia] para ser exercido. Se é de Deus, Deus o credenciará e os santos lhe reconhecerão o seu valor.

E. Admite um ministério regular?

W. Se por ministério regular você entende um ministério reconhecido (isto é, que em cada assembléia, aqueles que receberam dons de Deus para edificação sejam em número limitado e conhecido dos outros), admito-o. Mas se por um ministério regular você entende um ministério exclusivo de uns poucos, não o admito. Por um ministério exclusivo entendo o reconhecimento de certas pessoas ocupando tão exclusivamente o lugar de doutores ou mestres, que o exercício de dons reais por qualquer outro se tornaria irregular, como, por exemplo, na igreja nacional e na maior parte das congregações dissidentes, onde se veria como irregular um serviço realizado por duas ou três pessoas realmente dotadas pelo Espírito Santo.

E. Em que fundamenta essa distinção?

W. Em Atos dos Apóstolos 13:1. Vejo que havia em Antioquia cinco irmãos superiormente reconhecidos pelo Espírito Santo aptos a ensinar; Barnabé, Simeão, Lúcio, Manaém e Saulo. Em todas as reuniões era provável que os santos esperassem ouvir alguns desses cinco. Isso era um ministério reconhecido, mas não um ministério exclusivo pois quando Judas e Silas se juntaram a eles (At 15:32), puderam, sem dificuldade, tomar os seus lugares entre os outros, aumentando então o número dos “mestres” reconhecidos.

E. Mas que relação terá isso com a indicação de um cântico, ou com uma oração, ou a leitura de uma passagem das escrituras?

W. Tudo isso, como tudo mais, ficaria sob a direção do Espírito Santo. Infeliz do homem que, unicamente por vontade própria, indicasse um hino ou fizesse uma oração, ou lesse as Escrituras numa assembléia, sem ser guiado pelo Espírito Santo! Agindo assim na assembléia dos santos, ele faz profissão de ser dirigido pelo Espírito Santo, mas esta profissão (ou afirmação), não sendo verdadeira, torna-se em grande presunção. Se os santos sabem o que e a comunhão, saberão também como é difícil conduzir a congregação na oração e no canto. Dirigir-se a Deus em nome da assembléia, ou propor a esta um cântico, como meio de expressar a Deus o seu estado real, exige muito discernimento, ou, pelo menos, a mais íntima direção da parte de Deus.

[Continuando]
Assim eram focados estes assuntos por um irmão, conhecido, segundo creio, da maior parte de vós, um dos primeiros obreiros entre aqueles que, há mais de quarenta anos, têm procurado reunir-se em nome de Jesus. Em apoio à idéia principal do resumo citado (a saber, que Deus não designa todos os santos para tomarem parte no ministério público da Palavra, ou para dirigir o culto de uma assembléia), gostaria ler convosco em primeiro lugar 1 Coríntios 12:29-30: “Porventura, são todos apóstolos? São todos profetas? São todos doutores? São todos operadores de milagres? Têm todos o dom de curar? Falam todos diversas línguas? Interpretam todos?” Estas perguntas não teriam sentido se não fosse evidente que tais lugares no Corpo só eram ocupados por alguns. O apóstolo acabara de dizer: “E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente, apóstolos, em segundo lugar, profetas, em terceiro, doutores, depois, milagres...” E logo a seguir diz: “Porventura, são todos apóstolos?...” Assim, pois, na mesma porção da Escritura que trata detalhadamente da soberania do Espírito Santo na distribuição e exercício dos dons no Corpo, a Igreja – Porção esta citada usualmente, e com razão, para demonstrar que Deus estabeleceu a liberdade do ministério na Sua Igreja, nessa mesma porção nos é dito que nem todos os irmãos eram dotados por Deus, mas que Deus tinha estabelecido alguns no Corpo. Vem em seguida, então, a enumeração das diferentes ordens e classes de dons que os distinguiam.
Consideremos agora a epístola aos Efésios em seu capítulo 4. Alguns levantaram dúvidas quanto à possibilidade de se atuar exclusivamente segundo os princípios contidos em 1 Coríntios 12 e 14, pela ausência de menção de alguns dons contidos em Coríntios e não em Efésios. Eu, pessoalmente, não tenho tais dúvidas, limitando-me a perguntar àqueles que as tenham, onde se encontram, nas escrituras outros princípios pelos quais devamos agir. Mas, se não os encontramos, que autoridade teríamos nós para agirmos segundo princípios que não existem em nenhuma parte das Escrituras? Nenhuma dúvida desse gênero pode existir quanto a Efésios 4:8-13:”Pelo que diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens... E Ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outro para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo”. E notai que eles são dados até que a Igreja esteja completa. Enquanto Cristo tem um Corpo sobre a terra (onde o serviço de tais homens é necessário), confere-lhes os dons do Seu amor para alimento e cuidado desse corpo “até que todos cheguemos à unidade da fé”. É, pois, por meio do ministério de homens vivos, dados e chamados para esse ministério ou serviço, que Cristo cuida do Seu rebanho e o alimenta, e que o Espírito Santo opera no Corpo.
É verdade que muitos desses homens têm um trabalho secular. Paulo era fabricante de tendas. Talvez estejam muito longe (e quanto mais longe, melhor) de toda espécie de pretensões a uma dignidade clerical, a uma posição oficial . Mas nem por isso deixam de ser a provisão de Cristo para edificação dos Seus santos e para chamamento das almas. E a verdadeira sabedoria dos santos consiste em discernir esses dons, lá onde Cristo os colocou, e em reconhecê-los no lugar em que Ele os assinalou em Seu Corpo, a Sua Igreja. Reconhecê-los deste modo é reconhecer a Cristo mesmo. Recusar fazê-lo é, ao mesmo tempo, prejudicarmo-nos a nós mesmos e desonrar o Senhor.
Lembremo-nos também de que Deus tem colocado esses dons no Corpo, em todo o Corpo. É na totalidade do Corpo [Igreja, os que crêem no Senhor Jesus] que Deus tem distribuído Seus dons. Mas nós não somos todo o Corpo! Suponhamos que a Igreja tivesse conservado a sua unidade, como era no tempo dos apóstolos. Mesmo então poderia muito bem ocorrer que, em determinado lugar [assembléias], não houvesse evangelista, e que, em outro não houvesse pastor ou mestre. Enquanto que em outros lugares [assembléias], pelo contrário, encontrava-se mais de um evangelista, mais de um pastor e mestre. Mas agora que a Igreja está de tal modo dispersa e dividida, quanto mais verdadeiro não será o que acabamos de dizer, sobretudo para as pequenas assembléias que se reúnem aqui e acolá no precioso nome de Jesus?! Acaso o Senhor Jesus não cuidará com mais carinho da Sua Igreja por ela estar dividida e desgarrada? Deixou, porventura, de manifestar os Seus cuidados para com ela, concedendo-lhe os dons necessários e convenientes? De modo nenhum! Mas é na unidade de todo o Corpo que os encontramos. Temos necessidade de o recordar!
Todos os santos de uma localidade “X” formam a igreja de Deus desse lugar [que chamamos assembléia de tal lugar]. E pode haver evangelistas, pastores e doutores entre aqueles membros do corpo que estão ainda na igreja nacional, ou no meio dos metodistas e dos dissidentes, etc [no meio das denominações, naqueles que crêem]. Que proveito retiramos nós, então, do seu ministério? E como poderão os santos que estão com eles aproveitar dos dons que Cristo derramou no meio de nós?
Ao expor estes pensamentos, amados irmãos, o meu propósito tem sido o de vos fazer compreender bem que, se entre os setenta ou oitenta que se reúnem em “X” no nome do Senhor não se encontra quem seja portador dos dons dEle, segundo o que está escrito em Efésios 4, ou que haja ali somente dois ou três dentre eles que os possuam, o certo é que o fato de nós nos reunirmos desta maneira não aumentará em nós, por si próprio, o numero desses dons. Um irmãos a quem o próprio Cristo não tenha feito pastor ou evangelista, nunca o virá a ser pelo simples fato de começar a reunir-se ali,  onde se reconhece a presença do Espírito Santo e  a liberdade do ministério. E se, por não haver restrições humanas, os que não foram dados por Cristo à Sua Igreja como pastores, mestres ou evangelistas se atribuírem tal posição ou atuarem como tal, resultará verdadeira edificação? Não certamente. Muito pelo contrário, resultará em confusão. E Deus não é Deus de confusão, mas sim de paz, como sucede em todas as assembléias dos santos. Se tais dons faltam no nosso meio, confessemos a nossa pobreza. Mas se temos alguns, sejamos profundamente gratos por eles, reconheçamo-los no lugar que Deus lhes marcou, e oremos a fim de obter dons e ministérios melhores e mais abundantes. Mas guardemo-nos de supor que a ação de qualquer irmão, a quem o próprio Senhor tenha colocado nessa posição, possa ser uma benção ao substituir artificialmente um dom divino. O único efeito de uma tal ação é o de entristecer o Espírito Santo e de impedi-Lo de atuar por meio daqueles que Ele empregaria no serviço dos santos.
Ocorre-me um feliz pensamento ao terminar esta carta. Se a posição em que nos encontramos não correspondesse,  de modo nenhum, ao que se encontra nas Escrituras, semelhantes questões dificilmente se formulariam entre nós. Quando tudo está arranjado e regulado por um sistema humano, quando homens ordenados por um bispo, [pastor] por uma conferência ou por uma congregação não têm senão de se conformar aos seus ofícios com uma rotina prescrita pelas regras a que eles devem ser submetidos, tais questões não têm razão de ser. As próprias dificuldades da nossa posição provam, pelo seu caráter, que tal posição provém de Deus. Sim, e Deus, que, pelo Seu Espírito, a esta posição nos tem elevado, por intermédio da Sua Palavra, é plenamente suficiente, e não nos há de faltar nas dificuldades, antes Ele no-las fará atravessar de uma maneira proveitosa para nós e para a Sua própria glória. Sejamos apenas simples, humildes e modestos. Não cobicemos algo mais do que aquilo que possuímos, dado pelo Senhor, nem queiramos fazer algo para o qual Deus nos não qualificou.
Reservo alguns pontos de menor valor para uma outra carta. Assim, encerra vosso muito dedicado em Cristo.  

3ª Carta sobre o Espírito Santo Operando na Igreja - W. Trotter

3ª carta
COMO SE PODE DISCERNIR A DIREÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NA IGREJA [assembléia]
( MARCAS NEGATIVAS )

Amados irmãos,
Há dois pontos sobre os quais desejaria fazer-me compreender claramente, antes de abordar o assunto principal desta carta. Em primeiro lugar a diferença que existe entre o ministério e o culto. E tomo aqui a palavra culto no seu sentido mais amplo, designando as diferentes maneiras que o homem tem de se dirigir a Deus: A oração, a confissão e o culto propriamente dito, isto é, a adoração, a ação de graças e o louvor.
A diferença essencial entre o ministério e o culto é que no último o homem fala a Deus e no primeiro é Deus que fala aos homens por intermédio dos Seus servos. O nosso único direito, mas plenamente suficiente, para podermos prestar-Lhe culto é aquela superabundante graça de Deus, a qual de tal modo nos tem aproximado pelo sangue de Jesus, que agora conhecemos e adoramos a Deus como nosso Pai, sendo reis e sacerdotes para nosso Deus! A este respeito, todos os santos são iguais: o mais fraco e o mais forte, aquele que tem mais experiência e aquele que não passa ainda de uma criança. Todos participam igualmente desse privilégio. O mais dotado dos servos de Cristo não tem mais direito de se aproximar de Deus do que o mais ignorante dos santos, entre os quais ele exerce o seu ministério. Admitir o contrário seria atuar como muito frequentemente se tem feito em toda a cristandade: Instituir na Igreja de Deus uma ordem de sacerdotes ou de padres, transformando-a desse modo em instituição humana.
Nós temos um grande Sumo Sacerdote. E o único sacerdócio que existe atualmente ao lado do Seu é o sacerdócio que todos os santos compartilham e que compartilham todos por igual. Por isso não poderia supor que, numa assembléia de cristãos, aqueles que Deus qualificou para ensinar, para exortar ou para pregar o Evangelho fossem os únicos chamados para indicarem os hinos, orarem e louvarem a Deus e a renderem-Lhe graças (quero dizer a expressão de ação de graças, de louvor, etc.). É possível que Deus se sirva de outros irmãos ou para indicar um hino que seja a verdadeira expressão de adoração da assembléia ou para exprimir, nas orações, os desejos reais e as verdadeiras necessidades daqueles de quem afirmam ser porta-vozes. E se Deus apraz agir deste modo, quem somos nós para nos opormos à Sua vontade? Todavia, lembremo-nos bem de que, se estes atos de culto não podem ser privilégio exclusivo daqueles que têm dons espirituais já reconhecidos, é necessário que estejam todos subordinados à direção do Espírito Santo e que sejam todos regidos pelos princípios contidos em 1 Coríntios 14, segundo os quais todas as coisas devem ser feitas com ordem e para edificação espiritual.
O ministério (quer dizer, o ministério da Palavra, na qual Deus fala aos homens, por intermédio dos Seus servos) é o resultado do depósito especial, no salvo, de um ou vários dons, cujo uso ele é responsável perante Cristo. É em nosso direito de prestar culto a Deus que somos todos iguais; é na responsabilidade do ministério que diferimos, “tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada... “ (Rm 12:6). Esta passagem das escrituras estabelece, naturalmente, a diferença de que acabo de falar, entre o ministério e o culto.
O segundo ponto é a liberdade do ministério. O verdadeiro conceito, a ideia da liberdade do ministério que a Escritura nos dá, não compreende somente a liberdade no exercício dos dons, mas também no seu desenvolvimento. Implica que reconheçamos nas nossas assembléias a presença e a ação do Espírito Santo de tal modo que não levantemos nenhum obstáculo a essa ação, levada a cabo por quem Ele quiser. É, portanto, perfeitamente claro que os primeiros sinais de um dom devem ser resultado da ação livre do Espírito Santo, começando a atuar por intermédio de irmãos a quem não utilizava anteriormente. Parece-me que todo princípio contrário seria igualmente ofensivo aos privilégios da Igreja e dos direitos do Senhor. Assim fica evidente que, se os filhos de Deus se reúnem sobre um princípio que deixa ao Espírito Santo a liberdade de operar, por meio de um certo irmão, para indicar um cântico; por meio de outro irmão, para orar; por meio de um terceiro, para dar uma palavra de exortação ou um ensinamento – e se também o Espírito Santo deve ficar livre para desenvolver os dons para a edificação do Corpo (a Igreja) -, fica, pois, evidente que este princípio sadio se corromperá ante a precipitação e a atuação forçada dos dons sem a devida subordinação ao Espírito. Daí a importância de se saber distinguir entre o que é da carne e o que é do Espírito Santo. Repudio o abuso que tão frequentemente se faz de expressões como: o ministério da carne e “o ministério do Espírito Santo” . No entanto, elas encerram uma verdade muito importante, quando empregadas com inteiro rigor.
Cada cristão tem dentro de si duas fontes de pensamentos, de sentimentos, de motivos, de palavras e de ações, e essas duas fontes são chamadas, nas Escrituras, “a carne” e o “Espírito Santo”. A nossa ação, nas assembléias dos santos, pode provir de uma ou de outra dessas fontes. É, pois, de suma importância saber distingui-las bem. É muito importante para aqueles que atuam nas assembléias, seja habitual ou ocasionalmente, julgarem-se ou examinarem-se a si próprios a tal respeito. É algo de essencial para todos os santos, pois somos exortados a “provar os espíritos”, o que pode, por vezes, colocar a assembléia sob a responsabilidade de reconhecer o que é de Deus, e de assinalar e repelir o que proceder de outra fonte.
É sobre algumas das principais provas, que nos ajudarão a distinguir a direção do Espírito Santo das pretensões e das falsificações da carne, que eu queria agora chamar a vossa atenção. Em primeiro lugar queria mencionar várias coisas que não constituem, em si, um motivo para participarmos na direção das assembléias dos santos:
1)      Não estamos autorizados a atuar, pelo simples fato de haver liberdade para fazê-lo. E isto é tão evidente que não haveria a menor necessidade de demonstrá-lo – mas, no entanto, é útil que nos lembremos! Devido ao fato de nenhum obstáculo formal se opor a que qualquer irmão opere na assembléia, há possibilidade de alguns cuja única capacidade é a de saberem ler, tomarem uma grande parte do tempo, lendo capítulo após capítulo ou indicando hino após hino. Ora, qualquer menino que tivesse aprendido a ler poderia fazer o mesmo. Assim, em boa verdade, poucos irmãos dentre nós seriam incapazes de dirigir as assembléias, se a única capacidade requerida consistisse em saber ler devidamente hinos e capítulos das Escrituras. É relativamente fácil ler um capítulo. Mas discernir o que convém ler e o momento apropriado para tal já é algo muito diferente. Também não é difícil indicar um hino, mas indicar um que encerre e expresse realmente a adoração da assembléia, é impossível sem a direção do Espírito Santo. Confesso-vos, irmãos, que, já há algum tempo (não recentemente graças a Deus!), quando tínhamos lido cinco ou seis capítulos e cantado outros tantos hinos em redor da mesa do Senhor, e orado ou dado graças talvez uma única vez, perguntei a mim mesmo se nos tínhamos reunido para anunciar a morte do Senhor ou antes para nos aperfeiçoarmos na leitura e no canto. Dou sinceramente graças a Deus pelos progressos que houve nesse campo nos últimos meses. Todavia, será bom lembrarmo-nos continuamente de que a liberdade de atuar nas assembléias não nos autoria a agir a nosso bel-prazer.
2)      Não estamos suficientemente autorizados a atuar em determinado momento, apenas porque nenhum outro irmão o faz. Deve evitar-se o silêncio apenas pelo silêncio. Este pode dar a impressão de haver uma maior reverência, mas acaba sempre por se transformar em mera rotina. Todavia, e apesar de tudo, deve haver antes silêncio do que dizer ou fazer qualquer coisa apenas para o interromper. Bem sei o que significa pensarmos nas pessoas presentes, que não são da assembléia e talvez nem mesmo sejam convertidas, e sentirmo-nos mal com um prolongado silêncio por causa delas. Quando um tal estado de espírito é em nós frequente ou mesmo habitual, pode ser que seja um sério chamamento de Deus, para averiguarmos de onde ele provém. No entanto, isso nunca poderá autorizar um irmão a falar, a orar ou a indicar um hino, com o mero propósito de que se faça alguma coisa.
3)      Além disso, as nossas experiências e o nosso estado de espírito individual não são guias ou normas seguros quanto à ação que podemos tomar nas assembléias dos santos. Pode ser que um hino tenha sido de uma grande doçura para a minha alma, ou que o tenha ouvido cantar algumas vezes com grande prazer diante do Senhor. Mas bastará isso para se concluir que sou chamado a indicar esse hino na primeira reunião a que assistir? É possível que ele não tenha a menor relação com o estado de espírito atual da assembléia. Pode até suceder que a intenção do Espírito seja a de não se cantar absolutamente nada. “Esta alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém contente? Cante louvores” (Tg 5:13). Um hino deve expressar os sentimentos daqueles que estão reunidos. De outro modo, ao cantá-lo, eles não serão sinceros . E quem poderá indicar um hino, senão Aquele que conhece o estado de espírito atual da assembléia? E o mesmo se dá quanto à oração: Se alguém ora na assembléia, atua como porta-voz das súplicas e da expressão de todos. Ora, por meio de oração eu posso aliviar-me diante do Senhor de pesos e de cargas que são particularmente meus e que de maneira nenhuma convém mencionar na assembléia. Se o fizesse, o único efeito seria, provavelmente, rebaixar todos os meus irmãos ao mesmo nível em que eu me encontrar. Por outro lado, é possível que a minha alma esteja perfeitamente feliz no Senhor. Mas, se não ocorre o mesmo com a assembléia, é identificando-me unicamente com o seu estado de espírito que poderei apresentar os seus rogos e súplicas a Deus. Isto que dizer que, se sou dirigido pelo Espírito Santo a orar na assembléia, a minha oração não deverá ser como aquela que faço no meu quarto, onde ninguém mais se encontra além do Senhor e eu, e onde tanto as minhas próprias necessidades como as minhas alegrias pessoais formam o assunto especial das minhas preces e das minhas próprias necessidades como as minhas alegrias pessoais formam o assunto especial das minhas preces e das minhas ações de graças. Na assembléia é necessário que eu possa confessar ao Senhor e apresentar-Lhe as ações de graças e as súplicas que concordam com o estado de alma daqueles por quem venho a ser porta-voz, ao dirigir-me a Deus em nome de todos.

Um dos maiores equívocos que podemos cometer é o de imaginarmos que o EU e o que se refere ao EU (isto é, as nossas impressões e experiências pessoais) devam guiar-nos na direção das assembléias dos santos. Uma determinada porção das escrituras pode ter um elevadíssimo interesse para a minha alma e ainda ter me edificado muito, mas isso não é motivo para que deva lê-la à mesa do Senhor ou em outras reuniões dos santos.
Também pode acontecer que algum assunto particular me ocupe ou me preocupe, e que seja para o bem da minha alma; mas pode suceder, ao mesmo tempo, que não seja nada relevante se comparado ao assunto com que Deus quer chamar a atenção dos santos em geral.
Notai, porém, que não nego que poderíamos ter estado pessoal e especialmente ocupados de assuntos que Deus até gostaria que partilhássemos com os santos. Talvez isso até se verifique com certa constância entre os servos de Deus. Mas o que eu não receio afirmar é que, em si mesmo, o fato de que nos tenhamos ocupado desse modo não é uma indicação suficientemente segura. Podemos sentir necessidades que os filhos de Deus em geral não sentem, e, de igual modo, as suas necessidades podem não ser as nossas necessidades.
Permiti-me acrescentar que o Espírito Santo nunca me levará a indicar hinos, apenas porque eles expressam as minhas opiniões particulares. Pode suceder que, sobre certos pontos de interpretação, os santos que se reúnem numa assembléia não estejam inteiramente de acordo. Nesse caso, se alguns dentre eles escolhem hinos com o fim de expressarem a sua própria opinião (por muito bons e verdadeiros que esses hinos sejam), é impossível que os outros salvos presentes na assembléia os cantem com agrado. E então, em lugar de harmonia, há desacordo. Numa reunião de culto, os hinos que o Espírito Santo de Deus fará escolher serão a expressão exata dos sentimentos comum a todos. Sempre, e especialmente na assembléia, esforcemo-nos em “guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz”. E lembremo-nos de que o meio de alcançá-la é andarmos “com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor”.
Deixai-me lembrar-vos ainda de que, tanto no canto como na oração ou no culto, numa palavra, qualquer que possa ser o porta-voz da assembléia, é a assembléia que fala a Deus. Por conseguinte, o culto só será verdadeiro, sincero, na medida em que, não indo mais além, expresse fielmente o estado de alma dessa assembléia. E Bendito seja Deus porque Ele pode, pelo Seu Espírito Santo, imprimir uma nota mais alta (e Ele o faz muitas vezes) que vibre imediatamente em todos os corações, conferindo assim ao culto um espírito mais elevado. Mas se a assembléia não está em condições de responder imediatamente a esse diapasão de louvor, nada pode ser mais penoso do que ouvir irmão expandir-se em vibrantes acentos de ações de graças e de adoração, enquanto que os outros corações estão tristes, frios e distraídos. Aquele que expressa o culto da assembléia. De outro modo, tudo ali soará falso.
Por outro lado, uma vez que é Deus que nos fala no ministério, este não está, como o culto, limitado pelo nosso estado de alma. Pode estar sempre num nível mais elevado. Se ao falar, um irmão empregado no ministério é, realmente, um instrumento nas mãos de Deus, como deve ser, e por cuja boca o Senhor nos fala, será para nos apresentar verdades que nós não tenhamos recebido; ou para nos fazer recordar de outras que tenham deixado de atuar poderosamente sobre as nossas almas. Mas quão evidente é que, em ambos os casos (em todos os casos) é preciso que seja sempre o Espírito Santo de Deus a dirigir.
Acho melhor deixar para outra carta o que caracteriza a direção positiva do Espírito Santo. Até aqui só apresentei a parte negativa do tema. Portanto, amados irmãos, encerro.
Vosso muito dedicado em Cristo, W. Trotter

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4ª Carta sobre o Espírito Santo Operando na Igreja - W. Trotter

4ª carta
COMO SE PODE DISCERNIR A DIREÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NA IGREJA
[assembléia]
( MARCAS POSITIVAS )

Amados irmãos,
O homem que tentasse definir as operações do Espírito Santo no despertar ou na conversão de uma alma, não faria mais do que manifestar a sua própria ignorância, negando, além disso, a soberania do Espírito Santo expressa nestas tão conhecidas palavras: “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes onde vem, nem para ode vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito Santo” (Jo 3:8).
Todavia, as escrituras estão repletas de sinais que nos permitem reconhecer aqueles que são nascidos do Espírito Santo e aqueles que não são. O mesmo acontece com o assunto desta carta. Que Deus me guarde do perigo de usurpar o lugar do Espírito Santo, crendo poder delimitar exatamente o modo dEle operar sobre as almas daqueles que dirige, para atuarem na assembléia, seja no culto, seja exercendo um ministério no meio dos santos. Em determinados casos, a coisa pode ser muito mais clara e muito mais sensível do que em outros (quero dizer, sensível para aquele que é assim chamado a atuar pelo Espírito Santo de Deus). Não obstante, por muito vão e presunçoso que pudesse ser procurar dar uma verdadeira e completa definição sobre este tema, a Escritura oferece-nos amplas instruções acerca das marcas ou características do verdadeiro ministério. E é sobre algumas dessas características, as mais simples e as mais evidentes, que desejo agora chamar a vossa atenção, Há aquelas que se aplicam diretamente ao objeto do ministério ; e há outras referentes aos motivos que nos impelem a agir no ministério ou a participar de algum modo na direção das assembléias dos santos. Umas fornecerão àqueles que assim atuam um meio eficaz pela qual eles poderão julgar-se a si mesmos; e, valendo-se das outras, todos os santos poderão discernir o que é do Espírito Santo e o que procede de outra fonte. Algumas servirão para mostrar o que são os dons de Cristo à Sua Igreja para o ministério da Palavra, e outras ajudarão aqueles que possuem realmente esses dons a resolver importante questão de saber quando devem falar e quando devem ficar calados.
Pensando na minha responsabilidade, a minha alma treme ao escrever sobre este assunto, mas o que me encoraja é que “a nossa força vem de Deus”, e que “toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda boa obra”. Provai, pois, por esta perfeita regra, tudo quanto eu puder escrever, e se alguma coisa houver que não suporte esta prova, que Deus vos conceda a graça, amados irmãos, de serdes suficientemente sábios para a rejeitar.
Não é com cegos impulsos e expressões ininteligíveis que o Espírito Santo nos dirige, mas sim enchendo o entendimento espiritual com os pensamentos de Deus, tal como nos são revelados na Palavra escrita, e operando sobre os renovados afetos. É verdade que, nos alvores da cristandade, havia dons da parte de Deus cujo emprego podia não estar ligado à inteligência espiritual. Refiro-me ao dom de línguas, guando não havia intérpretes; e como esse dom, segundo parece, era aos olhos humanos mais maravilhoso do que os outros, os coríntios gostavam muito de exercitá-los e exibi-lo. Por isso o apóstolo os repreende: “Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos. Todavia eu antes quero falar na igreja cinco palavras na minha própria inteligência, para que possa também instruir os outros, do que dez mil palavras em língua desconhecida. Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia e adultos no entendimento” (1 Co 14:18-20). Portanto, o mínimo que se pode esperar daqueles que exercem um ministério é que conheçam as Escrituras, que conheçam o pensamento de Deus tal como está revelado na Sua santa Palavra. Notemos, porém, que esse conhecimento e essa inteligência podem encontrar-se num irmão que não possui nenhum dom de eloquência, de nenhuma capacidade de comunicá-los aos outros. Mas, sem eles, teríamos nós para dar ou comunicar? É Óbvio que os filhos de Deus não se reúnem de vez em quando ao nome do Senhor Jesus apenas para que se lhes apresentem meros pensamentos humanos ou para se lhes repetir o que outros tenham dito ou escrito. Um conhecimento aprofundado das Escrituras e largo entendimento do seu conteúdo são certamente essenciais ao ministério da Palavra. “E disse-lhes Jesus: “ Entendestes todas estas coisas? Disseram-lhe eles: Sim, Senhor. E ele disse-lhes: Por isso, todo escriba instruído acerca do Reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas” (Mt 13:51-52).
Quando nosso Senhor Jesus Cristo estava ao ponto de enviar os Seus discípulos para que fossem Suas testemunhas, “abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras” (Lc 24:45). E quantas vezes não temos lido que Paulo, ao pregar aos judeus, disputava acerca das Escrituras (At 18:2-4). E o apóstolo congratula os romanos cristãos por serem capazes de se exortar uns aos outros, dizendo: “Eu próprio, meus irmãos, certo estou, a respeito de vós, que vós mesmos estais cheios de bondade, cheios de todo o conhecimento, podendo admoestar-vos uns aos outros” (Rm 15:14). Nas porções da Escritura que tratam especialmente da ação do Espírito Santo na assembléia, como, por exemplo, em 1 Coríntios 12, ela não se verifica fora da autoridade da Palavra: “Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência...” (1 Co 12:8).
Quando o apóstolo enumera as qualidades pelas quais ele e os outros se reconhecem como servos de Deus, encontramos o seguinte nessa admirável lista: “na ciência... na palavra da verdade... pelas armas da justiça, à direita e à esquerda...” (2 Co 6:6-7); e se prestarmos atenção aos apetrechos desta armadura, encontraremos um cinto para os lombos, que é a verdade, e “a espada do Espírito Santo, que é a Palavra de Deus” (Ef 6:14 e 17). O apóstolo, aludindo ao que já tinha escrito aos Efésios, diz: “Pelo que, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo...” (Ef 3:4). Quando o mesmo apóstolo insiste para que os santos se exortarem uns aos outros, vejam o que ele menciona em primeiro lugar como condição essencial: “A Palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao Senhor com graça em vosso coração” (Cl 3:16). E diz o mesmo a Timóteo: “Propondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Jesus Cristo, criado com as Palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido” (1 Tm 4:6). E ainda o exorta, dizendo: “Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá... Medita estas coisas; ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina: persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1 Tm 4:13,15-16).
Na segunda epístola, Timóteo é exortado da seguinte maneira: “E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros” (2 Tm 2:2). E quando Paulo fala pessoalmente a Timóteo, lemos: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2:15). Entre as qualidade requeridas de um bispo ou vigilante, como estão mencionadas em Tito, capítulo um, achamos está: “Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes” (Tt 1:9). Tudo o que se disse comprova, meus irmãos, que não é só com pequenos fragmentos da verdade, apresentados esporadicamente por obrigação, que  a Igreja pode ser edificada.
Obs: (não permita Deus que estas linhas possam vir a desencorajar alguns irmãos e a impedi-los de proferirem algumas palavras de verdadeira edificação. Mas estou certo de que estes, a quem o Senhor utilizar dessa forma, serão os últimos a supor que o seu ministério seja o único ou o principal pelo qual Deus ministrará às necessidades dos Seus santos.

Não. Os irmãos, a quem o Espírito Santo usa para edificar, sustentar e guiar os santos de Deus, são aqueles cuja alma está habitualmente exercitada pela meditação da Palavra, “os quais em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal” (Hb 5:14). Como dissemos, o mínimo que se pode esperar daqueles que têm um ministério na Igreja, é que tenham um perfeito conhecimento da Palavra de Deus.
Todavia, esse conhecimento só não basta. É preciso também que a palavra de Deus seja aplicada à consciência dos santos, de tal maneira que ela responda às suas necessidades atuais. Mas para isso é necessário reconhecer o estado espiritual dos santos, “comunicando em suas necessidades” (e tal conhecimento será sempre muito imperfeito), ou então ser diretamente dirigido por Deus. Isto vale para os irmãos que, como evangelistas, pastores e mestres, são, no sentido mais amplo da palavra e o mais evidente, os dons de Cristo à Sua Igreja. É somente Deus que pode direcionar-lhes as porções da verdade que atingirão as consciências, respondendo às necessidades das almas. É somente Ele que pode capacitá-los a apresentarem esta verdade de tal maneira que ela produza o seu efeito. Deus conhece as necessidades de todos, como corpo, e de cada um em particular na assembléia, e pode transmitir àqueles que falam a verdade o que mais convém à sua edificação, conheçam eles ou não o estado de alma daqueles a quem se dirigem. Portanto, quão importante é a sujeição sincera e sem reservas ao Espírito Santo do Senhor!
Uma coisa que deveria marcar sempre o ministério do Espírito Santo seria o amor divino que procede de um afeto pessoal por Cristo. “Amas-me?” foi a pergunta formulada três vezes a Pedro, ao mesmo tempo que lhe era ordenado, por três vezes também, que apascentasse o rebanho de Cristo. “Porque o amor de Cristo nos constrange”, diz Paulo. Quanto isto difere de tantos motivos que poderiam naturalmente nos influenciar! Quão importante seria se nós pudéssemos, em boa consciência, dizer cada vez que exercemos algum ministério: “Não é o desejo de me sobressair, nem a força do hábito, nem a impaciência (a qual não pode suportar que não se faça nada) que me levaram a atuar, mas sim o amor por Cristo e pelo seu rebanho, por causa dAquele que o adquiriu ao preço do Seu próprio sangue”. Era isso, certamente, o que faltava ao mau servo que tinha escondido na terra o talento do seu senhor.
Aliás, tanto o ministério do Espírito Santo como qualquer outra ação levada a efeito, na assembléia, sob o impulso desse mesmo Espírito, há de se distinguir sempre por um profundo sentimento de responsabilidade para com Cristo. Permiti-me agora, meus irmãos, formular-vos, e a mim próprio, a seguinte pergunta: Suponhamos que um dia, no fim de uma reunião, perguntassem-nos: “Porque você indicou um tal hino, ou leu um tal capítulo, ou pronunciou tais palavras, ou orou daquela maneira?”. Poderíamos nós responder, com plena, pura e boa consciência: “O meu único motivo, ao fazê-lo, foi a convicção sincera de que esta era a vontade do meu Senhor”? Poderíamos nós dizer: “Indiquei aquele hino porque tinha a consciência de que ele responderia à intenção do Espírito Santo naquele momento. Li aquele capítulo, ou proferi aquelas palavras, porque senti claramente perante Deus que aquele era o serviço que o meu Senhor e Mestre me assinalava. Orei daquela maneira porque tinha a consciência de que o Espírito Santo de Deus me levava a pedir, como porta-voz da assembléia, as bênçãos imploradas nessa súplica”? Meus irmãos, poderíamos responder assim, embora sejam coisas que, frequentemente, só entendemos bem depois de passadas? Ou não atuamos antes, e muitas vezes, sem nenhum sentimento da nossa responsabilidade para com Cristo? “Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus”, diz o apóstolo Pedro. Isto não significa falar apenas segundo a Escritura, ainda que, naturalmente, isto seja verdadeiro também. Esta passagem quer dizer, ou antes, diz que aquele que falam devem falar como oráculos de Deus, isto é, como sendo o próprio Deus a falar pelas suas bocas. Se não estou absolutamente certo, em plena, boa e reta consciência, de que foi o próprio Senhor que pôs na minha boca o que digo à assembléia, e de que o faço no momento oportuno, devo ficar calado. É evidente que um homem pode enganar-se, mesmo cheio de boas intenções, e, por isso, é aos santos que compete julgar, pela Palavra de Deus, tudo o que vêem e ouvem. Aliás, só a convicção sincera, perante Deus, de que foi o Espírito que lhe deu alguma coisa a fazer ou a dizer, deve levar alguém a falar ou agir nas reuniões. Se as nossas consciências agissem sempre sob esta responsabilidade, já se evitaria muitas coisas impróprias. E, ao mesmo tempo, o Ser divino poderia manifestar livremente a Sua presença, a qual, muitas vezes, não temos considerado.
Vejamos como é surpreendente esse sentimento de responsabilidade imediata da parte do apóstolo Paulo para com Cristo: “Porque, se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho! E por isso, se o faço de boa mente, terei prêmios; mas, se de má vontade, apenas uma dispensação me é confiada” (1 Co 9:16-17). E quão comovedoras são estas palavras que ele dirige ao mesmos cristãos: E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor” (1 Co 2:3). Que censura pela leviandade de coração, pela presunção com que infelizmente, todos nós tratamos, tantas vezes, a santa Palavra do nosso Deus! “Porque nós não somos, como muitos”, diz ainda o apóstolo, “falsificadores da palavra de Deus, antes, falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus” (2 Co 2:17).
Gostaria agora de mencionar um outro ponto: “Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação” (2 Tm 1:7). Um espírito de moderação, ou em outras palavras, de bom senso. É possível que um homem tenha pouca ou nenhuma instrução humana; é possível que lhe falte tudo, que seja incapaz de se expressar de forma correta e elegante, mas que, não obstante, seja um bom servo de Jesus Cristo. Mas é indispensável que ele possua um espírito de moderação, de bom senso. E, enquanto estamos tratando deste assunto, seja-me permitido mencionar algo que algumas vezes me tem entristecido muito, tanto em outros lugares como no meio de nós mesmos. Refiro-me à confusão que se faz entre as Pessoas da Divindade, confusão essa que se verifica até nas orações. Quando um irmão, ao começar a orar, dirigi-se a Deus Pai, e continua falando como se fosse Ele o crucificado, morto e ressuscitado; ou quando, se dirigindo-se a Jesus, rende-Lhe graças por ter enviado o Seu único filho ao mundo, confesso-vos que me pergunto se pode ser o Espírito Santo a inspirar tais orações!
É, pois, evidente que todos aqueles que, de algum modo, tomam parte no culto necessitam do espírito de “bom senso”, para evitarem essa confusão. Penso que nenhum desses irmãos crerá que o pai tenha sido morto sobre o Calvário, nem que Cristo tenha enviado o Seu Filho ao mundo! Portanto, onde se encontrará, então o espírito sereno, inteligente, que deveria caracterizar aqueles que se sobressaem como os “canais” do culto dos santos, quando a linguagem de que se servem exprime, efetivamente, o que eles mesmos não crêem e até seria absurdo crer?!
Reservando ainda alguns pontos para uma outra carta, encerro.
Vosso muito dedicado em Cristo, W. Trotter.

Nota do editor da 5ª edição em língua francesa

Sobre o que o autor comenta acerca de certos defeitos das orações, às quais podem nunca provir do Espírito de Deus, o editor toma a liberdade de acrescentar algumas palavras:

1)      Quando um irmão, orando na assembléia, dirige-se ao Senhor, dizendo: “Meu Deus”, isso não pode, certamente, vir do Espírito, porque o Espírito que impele um certo irmão a levantar e ser o porta-voz de toda a congregação, também o fará identificar-se com a mesma.
2)      Quando uma oração ou uma ação de graças encerra longas exposições doutrinárias, também não posso ver nelas a direção do Espírito Santo. Aquele que ora fala a Deus, e não aos irmãos. Ora, de maneira nenhuma nos convém pregar a Deus!

3)      Duvido que atos do culto, sucedendo-se sempre pela mesma ordem, sejam sempre devidos à direção do Espírito. Por exemplo, será o Espírito que quer que todas as reuniões terminem com uma oração, sem a qual ninguém ousaria levantar-se para sair? Sem dúvida, uma oração final será muito conveniente e tem o seu lugar, se é Deus que a ela nos leva. Do contrário, essa oração não será mais do que uma pobre formalidade e não valerá mais do que uma liturgia rotineira.

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